‘Plantio direto no verde’: SPDH é tema de Dia de Campo promovido em Santa Rosa de Lima

Técnica é alternativa para redução de custos na lavoura de hortaliças, grãos e frutas

Garantir da produtividade das plantações com menos custos e menor trabalho de manutenção da lavoura são alguns dos benefícios do SPDH+ (Sistema de Plantio Direto de Hortaliças e outras Plantas) para a agricultura familiar. A técnica foi tema de um ‘Dia de Campo’ promovido em Santa Rosa de Lima em que produtores, técnicos, estudantes e entusiastas puderam conferir em teoria e na prática como ela funciona.

A atividade ocorreu na tarde do dia 19 de setembro, quarta-feira , em área de propriedade do casal Valnério e Leda Maria Assing, e foi promovida por entidades como Sintraf (Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar) e Icaf-SC (Instituto de Cooperação da Agricultura Familiar), com apoio da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), da cooperativa de crédito Cresol Encostas da Serra e da Prefeitura de Santa Rosa de Lima. O local do Dia de Campo foi escolhido justamente por Valnério e Leda terem dado início a uma lavoura de milho por meio do SPDH+.

Um dos palestrantes foi o engenheiro agrônomo Jamil Abdalla Fayad, um dos desenvolvedores da técnica SPDH, também conhecida como ‘plantio diretamente no verde’, ainda na década de 1990. Ele contou como, nos anos 80, no município de Caçador, no Oeste Catarinense, muitos agricultores progrediram com o cultivo de tomate. Porém, a cada nova sofra, o custo de produção aumentava mais, até chegar ao ponto em que os produtores acumularam muito prejuízo, a ponto de falirem. “Se produzia um tomate bonito, vermelho e saboroso, que era muito valorizado. Naquele época, se ganhou muito dinheiro produzindo tomate”, lembra o agrônomo, que no período era pesquisador da Epagri em Caçador.

“Mas, a cada ano, o solo ficava mais pobre de nutrientes. Para garantir a produtividade, os agricultores tiveram que usar cada vez mais fertilizante, mais adubo, mais agrotóxicos. O resultado foi que, em dias de hoje, se eles tinham um custo de R$ 7,00 ou R$ 8,00 por quilo de tomate, acabavam vendendo por R$ 2,00. O resultado: todos ‘quebraram’”, acrescenta.

Alternativa ao método convencional

Foi em busca de um forma de reduzir custos de produção do tomate em Caçador que, então, foi desenvolvido o SPDH. “Inicialmente, desenvolvemos o SPDH especificamente para a cultura do tomate. Por isso o ‘H’, de hortaliças. Mas ele pode ser aplicado em outras lavouras, como grãos e até em pomares. Por isso, atualmente, chamamos essa técnica de SPDH+”, explica Jamil.

O sistema de plantio direto no verde é relativamente simples. Segundo o pesquisador, pode ser considerado um método intermediário entre o plantio convencional e o agroecológico e é “focado “na planta”. “Um dos aspectos mais importantes é atender exatamente ao que a planta precisa em cada fase da sua vida”, revela.

O SPDH+ prevê uma série de práticas conservacionistas. A principal é a proteção do solo com palhada, utilizando plantas de cobertura para formar biomassa. Além dessas plantas, conhecidas como adubos verdes, são mantidos na área de plantio os restos vegetais de culturas anteriores. O revolvimento do solo é restrito à linha de plantio e, nessa área, o agricultor deve praticar rotação de culturas.

Além de proteger o solo, as plantas de cobertura servem de alimento para macro e microrganismos, aumentam a concentração de matéria orgânica, reduzem o surgimento de plantas espontâneas e mantêm a umidade e a temperatura mais estáveis. Com a rotação de várias espécies, há redução nos problemas fitossanitários, aumento na biodiversidade e na ciclagem de nutrientes, mantendo e melhorando a fertilidade do solo.

A consequência é a redução significativa dos custos de produção, além do aumento da produtividade. De acordo com dados da Epagri, a economia é 50% em média, reflexo da redução de adubos e agrotóxicos. A melhoria na qualidade e na uniformidade das plantas permite diminuir em 35% as perdas na colheita. Além disso, as taxas de infiltração de água no solo chegam a ser três vezes maiores que no sistema convencional – a redução média no uso de água para irrigação é de 80%.

Expectativa de boa colheita

Produtor agrícola do município de São Ludgero, Nivaldo Covre, juntamente com sua esposa, Marli Lembeck, foi um dos cerca de 50 participantes do Dia de Campo em Santa Rosa de Lima. O casal deu início neste ano a uma plantação de tomate e outra de pimenta em sua propriedade por meio do SPDH. “Somos apenas nós dois a trabalhar na nossa propriedade. Temos dois filhos, mas eles já têm seus empregos fora, e cuidar da plantação já estava ficando muito trabalhoso e muito caro para nós.

Nós já estávamos desistindo da lavoura quando fomos apresentados ao plantio no verde. Através do conhecimento do que nos foi passado, preparamos a plantação e agora estamos na expectava da nossa primeira safra nesse sistema”, conta o agricultor.

Animado com a possibilidade de um boa colheita com menos esforço e menor custo, Nivaldo informa a quantidade de abudo que teve de utilizar na sua lavoura neste início de plantio. “Nenhuma”, resume.

Outro casal agricultores de São Ludgero que também adotou o SPDH+ e marcou presença no Dia de Campo para troca de experiências é Edson e Ivonete Bianco, que, assim como Nivaldo e Marli, iniciaram sua lavoura de tomate utilizando a técnica.

Agricultores, técnicos e entusiastas em geral que quiserem saber mais sobre o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças e outras Plantas podem procurar as entidades que participaram do Dia de Campo em Santa Rosa de Lima: Cresol Encostas da Serra, Sintraf, Icaf-SC, Epagri e Secretaria Municipal de Agricultura de Santa Rosa de Lima.